Pode parecer improvável, mas é verdade: a cortiça, símbolo da tradição rural e do artesanato português, tem lugar reservado na exploração espacial. Utilizada como material de isolamento térmico em naves, foguetões e satélites, a cortiça portuguesa destaca-se pelas suas propriedades únicas — e parte dessa cortiça pode mesmo ter origem em São Brás de Alportel.
Este concelho algarvio, com fortes tradições no setor corticeiro, é conhecido pela qualidade excecional da sua cortiça. Extraída com técnicas ancestrais, a cortiça de São Brás é leve, resistente ao calor, compressível e com elevada capacidade de isolamento, características ideais para proteger equipamentos sujeitos a temperaturas extremas, como os que enfrentam o vácuo e o atrito da atmosfera.
Empresas tecnológicas e aeroespaciais, como a ESA (Agência Espacial Europeia), a NASA e a SpaceX, já recorreram a materiais à base de cortiça nos seus programas. Em Portugal, empresas como a Amorim Cork Composites têm vindo a desenvolver soluções técnicas a partir de cortiça natural para a indústria aeroespacial — e essas soluções começam muitas vezes nos montados do Algarve.
"É impressionante pensar que algo tão ligado à terra pode ser ao mesmo tempo tão essencial para viajar além dela", comenta Sofia Carrusca, convidada do primeiro programa Terra Algarvia, dedicada precisamente ao tema da cortiça. "A ligação entre tradição e inovação está toda aqui."
Ao valorizar o território e os seus recursos, São Brás de Alportel mostra mais uma vez que o conhecimento local e os saberes tradicionais têm lugar num mundo cada vez mais tecnológico e globalizado.